Ensaio: Interpretação do Patrimônio e Empoderamento Cultural

Resumo

Eu fui convidado a falar sobre Interpretação do Patrimônio e Empoderamento Cultural, dois conceitos sobre os quais, até esta palestra, eu não havia publicado nenhuma reflexão ou posicionamento. Meu primeiro trabalho desde o convite foi, por essa razão, o de buscar definições de cada um deles para, então, aproximá-los de minhas publicações anteriores.

Esse processo foi muito rico. Eu simplesmente adoro ser convidado para uma fala sobre um tema relativamente novo para mim - desde que, é claro, ele se inclua no meu domínio de especialização, que é o da Antropologia como ciência geral de compreensão da condição humana.

Como antropólogo, meu trabalho consiste em compreender como as pessoas agem no mundo social e por que elas tomam determinadas posições e assumem certos papéis ao longo de suas vidas. Eu me preocupo em ouvir suas próprias interpretações sobre o que fazem e quem são, assim como interesso-me por tudo o que não conseguem interpretar. E, ainda, tenho uma curiosidade enorme pelos seus processos de mudança. Na minha experiência, é muito mais desafiador compreender por que as pessoas permanecem as mesmas ao longo do tempo do que o contrário. Ao meu ver, a vida não é um rio contínuo com pequenos percalços e eventuais encruzilhadas, mas uma constelação de formações, reflexões e decisões que, retrospectivamente, sequenciamos inteligentemente por meio de narrativas. Ou, dito de maneira mais simples, a vida é descontínua. É uma constelação de instantes e de formas que nós, por meio de nosso aparato cognitivo, tendemos a conjurar em um todo ou em uma sequência aparentemente consistente.